terça-feira, dezembro 08, 2009

Estreia dia 11.12.2009
Unibanco Dragão do Mar 2, às 14h, 16h, 20h e 22h.
Censura: 18 anos
DO COMEÇO AO FIM (BRA, 2009).
De Aluízio Abranches. Com João Gabriel Vasconcellos, Rafael Cardoso, Júlia Lemmertz e Fábio Assunção. 90 min. Drama.


NOTA DA COLUNA VARIEDADES DO SITE CINEMA EM CENA
"Do Começo ao Fim": Amor, conflito e superação do preconceito
07/12/2009
por Priscila Colen e Bruno Vieira

O amor fraterno que ultrapassa a barreira moral e se converte em amor apaixonado. É esse o contexto do filme Do Começo ao Fim, de Aluizio Abranches.
Francisco (João Gabriel Vasconcelos) e Thomás (Rafael Cardoso) são meio-irmãos criados pela mãe e muito unidos desde a infância. Já durante os primeiros anos de vida, os laços de afeto e o vínculo que existe entre os dois se fazem visíveis, a ponto de serem notados pela mãe Julieta (Julia Lemmertz), e pelo pai de Francisco, Pedro (Jean Pierre Noher).
No filme, o conflito e os desdobramentos desde amor não-convencional são tratados de maneira sutil. Abranches conta que o incesto e a homossexualidade são apenas meios de contar a história. “Na verdade, este é um filme cujo tema é o amor; a homossexualidade e o incesto são o contexto, não o tema. É a maneira com que conto a história”, explica.
O filme apresenta um olhar muito particular a respeito dos vários "tabus" que aborda. O diretor se orgulha de ter tido a oportunidade de contar esta história do seu jeito, sem impor nada às pessoas, e sem preconceitos.
“Eu me coloquei e falo que não é estranho dois homens se amarem, que não é estranho dois irmãos se amarem. Pode ser improvável. Mas não é estranho ter uma família amorosa, uma mãe libertária; não é estranho você não apanhar porque você gosta do seu irmão”, defende.
Abranches reconhece que trata de assuntos incômodos no longa, mas acredita que eles devem ser discutidos. “Incomodam, mas já não são proibidos. Não têm nada de errado, nada que faça mal às pessoas”, justifica.

A abordagem do conflito
Uma crítica recorrente ao filme é a ausência de conflito. O diretor rebate: “Existe um conflito, existe uma melancolia. Talvez sejam pouco problematizados, mas foi algo que eu fiz de propósito. Eu não acho que estes assuntos tenham de ser problematizados, eles podem ser aceitos - pelo menos nesse filme. As demais discussões vão acontecer fora do filme", argumenta.
Rafael Cardoso, que interpreta Thomás, também refuta as críticas de que não há conflito na história. "O conflito está no filme sim, só que não é denso e dolorido. Os pais se questionam, só que decidem não bater de frente com isso, decidem não interferir. Essa foi a maneira que o Aluizio quis fazer a história. Se fosse outra história, deveria ser outro filme", afirma Cardoso.

Lidando com o preconceito
Questionado sobre como foi interpretar um homossexual, Rafael Cardoso disse que a experiência foi interessante justamente por desafiar sua visão de mundo. “Homossexualidade não é mais tabu, mas incesto ainda é. Foi bom ter trabalhado e ter pensando nisso, porque eu me julgava sem preconceito nenhum. Na hora de conceber a trama, às vezes eu me perguntava. ''Tem um incesto aqui... Beleza... Dois irmãos, né?...''”, pondera.
Mas o questionamento foi positivo. “Em vários momentos eu me peguei me questionando, e eu achei legal. Esta amarra social ainda existe, está aqui em mim. Mas tomara que, assim como eu me questionei, outras pessoas parem para pensar e se libertem”, afirma. O ator afirma que a homossexualidade não é mais questão a ser tratada como impedimento - mas o incesto, sim. "Não é comum, não que não exista. Foi bom ter trabalhado e ter pensado nisso porque eu me julgava sem preconceito nenhum."

Para Aluizio Abranches tabu é interdição, e hoje em dia já não se pode tratar homossexualidade como tal. E, embora ele admita que o incesto ainda seja - como Rafael Cardoso colocou - uma amarra social, para ele as coisas não são bem assim. “Eu não nego que sejam preconceitos para a sociedade, mas para mim não são. Não estou dizendo que vale tudo por amor, mas viver um amor consensual, bonito, por que isso ofende aos outros?”, indaga.
“O que deveria incomodar mesmo são as guerras no Oriente Médio, o HIV, a mudança climática, a violência, isso tudo devia incomodar muito. Agora, o amor incomodar, a homossexualidade, o amor consensual onde ninguém está fazendo mal a ninguém, incomodar por questões morais? Eu acho estranhíssimo”, comenta.
Perguntado sobre uma palavra que definiria o filme, Abranches deu três como resposta: respeito, tolerância e livre-arbítrio. “O filme começa falando em livre arbítrio. Então cada um escolhe como quer tratar do seu próprio amor, da sua própria sexualidade, da sua própria vida. O filme respeita as escolhas, respeita o destino, e respeita o amor”, finaliza o diretor.

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